30 de ago. de 2011

30 - Produzindo Jaguara - Quadrinhos e o Basquete

Toikobé!
Estava fuçando esta semana em alguns trabalhos antigos meus, que guardo com carinho em algumas pastas e caixas. Me deparei então com uma velha pasta amarela de elástico e dentro dela encontrei algo que me deixou surpreso e emocionado ao mesmo tempo.
Já fazia um tempo que eu queria escrever algo sobre motivação, superação de limites etc. Estava esperando a hora e o material certo para editar esse post e eis-me aqui, com um material muito legal para este tema.
Vamos lá...
Em 1987, nos Jogos Panamericanos em Indianópolis, Estados Unidos, aconteceu uma final inusitada no Basquete: Brasil x Estados Unidos.
Este jogo, como de praxe no basquete mundial da época, estava "ganho" pela seleção americana. O Brasil era quase considerado um "azarão". O jogo começa e termina o primeiro tempo (que na época, eram 2 tempos de 20 min.) com os americanos confirmando seu favoritismo, com uma vantagem de 14 pontos à frente do Brasil.
Na volta para o segundo tempo, o inesperado para a nossa alegria: o Brasil reage e reage a tal ponto, de não só tirar a diferença como ganhar de 120 a 115 (!) da seleção americana, na casa deles, onde nunca haviam sofrido derrota alguma. Nesse jogo, todos os jogadores e equipe técnica brasileira se superaram e dentre eles, com mais destaque para o excepcional Oscar Schmidt. Vamos falar dele um pouco.
Vejam estes 2 vídeos e se arrepiem:


Entrevista concedida por Oscar em 1997, 10 anos depois da conquista.


Últimos instantes da vitória histórica em 1987. Reparem na minúscula torcida brasileira presente no estádio. A vibração e empenho do time brasileiro foi louvável e tão grande quanto a conquista. (Dica: no YouTube, por este link, dá para assistir ao jogo todo e a virada acontece na parte 7). Emocionante!



Recorte de uma matéria na extinta revista "Manchete" (que eu tenho guardado) sobre o feito do basquete brasileiro.

Oscar foi o maior jogador brasileiro da história e o maior pontuador em Olimpíadas.
Logo após este jogo, por questões óbvias, ele foi convidado para integrar a NBA, algo totalmente inédito para um estrangeiro mas recusou para poder continuar a atuar pela Seleção Brasileira.
Como pratiquei basquete por muitos anos, Oscar é sem dúvida um ídolo e uma referência pra mim neste esporte.
Oscar treinava muito, muito mesmo. Apesar do talento evidente, geralmente ele era o primeiro a chegar e último a sair do treino. Ele certa vez, comprovou em entrevista que o apelido "Mão Santa" era simplesmente fruto de treino árduo e constante.
Mas o que eu encontrei em minhas bagunças que me vez lembrar de um ídolo, foi um trabalho que quase aconteceu, quase mesmo.
No começo de 1997, eu fiquei sabendo que o Oscar era Secretário de Esportes da capital de São Paulo. Seu escritório era no Centro Olímpico perto do Ibirapuera. Peguei então, alguns trabalhos meus sobre meu personagem TREC (um gato que joga basquete e sua turma) e fui lá de Jaiminho (apelido carinhoso e prático do meu fusca!), vejam só, tentar conversar com ele para oferecer meu personagem para alguma campanha, revista ou qualquer trabalho que tivesse.
Fui recebido pelo seu assessor, chamado Renato, que foi muito simpático comigo. Ele pegou meus desenhos e disse que iria mostrar ao Oscar. Fui embora e 2 dias depois, ele me chamou para ir lá.
Fui correndo, super empolgado e chegando lá, o Renato me disse que o Oscar não tinha se interessado no TREC mas, surgiu a ideia de se fazer uma revista infantil com o Oscar como personagem principal.
Puxa, foi fantástico a ideia e o Renato me pediu para fazer uma proposta sobre este projeto.
Nem preciso dizer que nem dormi mais, só pensando nisso e, para quem tinha 23 anos de idade, era o projeto da minha vida na época.
Preparei então várias pranchas com propostas para os personagens com a orientação do Renato, sob indicações do próprio Oscar. Tudo isso feito pelo "orelhão", com várias fichas, pois na época eu não tinha telefone e não existia a internet ainda. Apresentei os trabalhos e pelo que sei, o Renato confirmou que o Oscar tinha gostado, mas pediu para eu desenvolver melhor os personagens e me deu o telefone do empresário de imagem do Oscar, sugerindo que eu começasse a conversar com ele sobre o projeto.
Fiquei muito feliz e fiquei mais algumas semanas desenvolvendo e na expectativa do projeto finalizar em um contrato e uma revista. Mas, infelizmente não rolou. Quando tive minha última conversa com o Renato, meio chateado, me disse que a projeto agora estava na mão do empresário e que nem ele podia mais participar efetivamente. Falei com o empresário algumas vezes e ele disse que o projeto tinha sido acertado com uma grande editora (!?). Bom, na época, fiquei arrasado e depois de alguns meses, em janeiro de 1998, saia a revista "Oscarzinho" pela Editora Mithos.
Isso são coisas que acontecem pela falta de experiência profissional e não tem jeito. Muita coisa a gente aprende assim.
Mas o que me deixou chateado naquela época, não foi atitude do empresário que me enrolou até onde podia e não jogou limpo, mas sim o fato de eu não ter conhecido o Oscar pessoalmente e perdido a oportunidade de trabalhar com ele em 2 coisas que eu adoro: quadrinhos e basquete.
Vejam algumas artes da época:


Página teste de quadrinhos com o Oscarzinho e outros personagens sugeridos no projeto.


Primeira proposta do personagem Oscarzinho, bem como seu logo.


Capa da revista produzida e publicada pela Mythos, em Janeiro de 1998, desenhada pelo grande mestre Mozart Couto.

Claro que o trabalho feito pela Mythos ficou ótimo, mas a revista não vingou, chegando até o número 4, senão me engano. Realmente, não entendi porque não deu certo, sendo que o Oscar é um grande ídolo nacional, assim como o Senna e Pelé, que tiveram personagens em quadrinhos e estão aí até hoje.
Não pretendo com este texto, me sentir injustiçado ou menos ainda, querer comparar o trabalho amador que eu tinha na época com um artista renomado e uma editora de peso, nada disso.
Mas acredito que sempre podemos tirar lições importantes e positivas de tudo e a que eu tirei desse acontecimento, é que eu gostaria de dividir com todos: "Nunca deixem de correr atrás daquilo que parece até impossível, que provavelmente não irá acontecer e que certamente só irá se realizar se a gente tentar."
E fica a grande dica, óbvia até, mas que só aprendi desta forma: "Nunca deixem de registrar um projeto de sua autoria, nunca, never, jamais!!!!" Esse erro foi fruto da minha inexperiência e de uma certa ingenuidade.
Sobre a carreira do Oscar, se um cara que é o melhor no que faz e ainda sim, treina mais do que todos, isso deixa claro que por maior que seja nosso talento, nada acontece se não tivermos perseverança e trabalho duro.
Acredito que quando trabalhamos sério e acreditamos no que fazemos, as oportunidades surgem certamente.
E não basta isso, quando nos propormos a fazer algo, que façamos para sermos os melhores. E isso significa trabalho duro, criatividade e determinação.
A carreira do Oscar nos mostrou isso. 
A conquista da Medalha de Ouro dos Jogos Panamericanos de 1987 mostra que até o impossível pode acontecer.
Penso nisso como grandes lições a serem seguidas sempre.

É isso!

Valeu!